FACES URBANAS

sexta-feira, 13 de junho de 2008

JOGA PEDRA NELES, GENI!!!

POR FABIANO GUIMARÃES



Joga pedra na Geni, Joga pedra na Geni.
Ela é feita pra apanhar. Maldita Geni.
Ela dá pra qualquer um. Ela é boa de cuspir.

A Drag Queen faz parte do interior perturbado da mente de cada um de nós. A necessidade peculiar de abandonar essa propriedade que faz parte de nossa personalidade, pré-determinada, pré-fabricada, moldada para atender ás exigências da sociedade. É impossível para nós, mostrarmos nossa segunda face, que se encontra escondida por causa do cruel autoritarismo da nossa realidade. A sociedade é como um pai, que nos impõe regras a serem cumpridas e nos proíbe de libertar nossos desejos mais profundos. No entanto, todo pai tem sua ovelha negra, e essa é a Drag Queen. Desgarradas, vão de contra as ordens do papai-sociedade e assim mostram todas as suas faces nuas em pelo, pele, peruca, bota, vestido justinho e maquiagem carregada.
Somos a manifestação de nossos desejos, tão simples, porém tão recrimináveis. Não queremos ser mulheres. Jamais !!! Não somos Travestis! Somos duas caras, homens sérios durante o dia e mulheres bregas e extravagantes durante a noite. Nos maquiamos, nos produzimos e no fundo desejamos ser divas, dançando naquele palco e desfilando pelos corredores da boate, arrancando olhares sedentos de desejos sexuais oprimidos daqueles machos mal resolvidos. Mas nós? Nós não somos mal resolvidas, somos muito bem resolvidas. No entanto, os que se julgam civilizados, não. O barulho do som faz nossas curvas enlouquecerem a platéia. Kilos de maquiagem escorrem derretidas por causa do suor. No fim da noite, o brilho acabou e voltarei ao meu lugar bem respeitado e aceito na sociedade. Arranco minha peruca, limpo meu rosto da maquiagem carregada de minha personagem, descalço minhas botas e vou me despindo do meu vestido justo e da minha segunda cara. Estou me despindo para dar para à outra cara, à cara que eles respeitam, uma chance de se mostrar ao mundo. É a face que eles consideram digna, quando na verdade a digna é a Drag, que não tem medo de exibir sua segunda face, independente das pedras que lhe serão jogadas. Volto para minha vidinha normal, mas na noite do próximo sábado serei digna de novo, serei Márcia!
Estamos nos desejos dos homens, somos duas em uma. Tudo o que as mulheres são e com algo a mais. No fundo, não há um integrante da sociedade que não seja uma Drag Queen. Eles apenas escondem a face que as pessoas recriminariam. Todos nós temos duas caras, mas por causa do Self, denominação da sociologia que designa o ato de imaginarmos como os outros indivíduos nos vêem, não queremos apresentá-las e decepcionar o nosso ciclo social. Se mostrássemos nossa segunda face, seriamos condenados, excluídos, julgados. Ninguém deseja isso. Mas o mais inaceitável é que esses moralistas que proíbem você de arrancar suas cobertas, sua carapaça, também são donos de segundas faces.
Seja qual for essa nossa segunda cara, ela é reprimida e proibida de desfilar em publico, por causa dos julgamentos insanos e incoerentes da sociedade. Para que se cobrir? Por que não se despir? Como dizia Nelson Rodrigues, o rosto é que é obsceno, as partes intimas poderiam estar à mostra. A Fantasia de todo o ser humano é ter a coragem da Drag e mostrar sua segunda face, desnuda de preconceitos. Mas o papai-sociedade não permite, pois se não o castigo para esse individuo será grande, será apedrejado como Geni. Esse dilema atormenta a mente dos seres humanos, cheio de traumas, dores, complexos, ódio e desejos reprimidos. No final de tudo, somos todos Drag Queens. Possuímos várias faces e apenas nos diferenciamos dela pelo fato de não possuirmos coragem para viver nosso outro “eu” com total liberdade. A sociedade a condena, mas no fundo a venera. Ela se diz superior a Drag, mas na verdade a superioridade está na belíssima transformista, que assume suas taras, enquanto a sociedade está recuada por causa do seu auto-preconceito. O ódio apresentado contra Geni é, na verdade, um ódio contra si mesmo por não se permitir ser livre como ela, que dar pra qualquer um, sem se importar com os cuspes e as pedras.
Concluindo, o cidadão trabalhador comum é que é minha mascara, para ser aceito no ciclo social. Minha verdadeira face mostro quando sou Márcia, nua de todas as carapaças. Corpos livres, espíritos livres. Enquanto vocês ficam com suas mentes trancafiadas em regras e conceitos desnecessários. Vocês se oprimem para não serem excluídos do seu ciclo social. Já eu, me mostro para ficar bem comigo mesmo. No fundo, o que todos nós procuramos é atingir a felicidade, que é a plenitude da existência humana. Você é feliz do seu jeito, e eu sou feliz do meu !
posted by FABIANO GUIMARÃES at 03:37

3 Comments:

Este comentário foi removido pelo autor.

13 de junho de 2008 às 06:23  

A maior e melhor verdade que você revelou:

O ódio contra os gays é, na verdade, ódio contra si mesmo por não se permitir ser livre como eles.

Sabe qual a melhor forma que eu achei de descobrir de um "bofe" é hetero ou homo? Vendo se ele é agressivo com gays ou não. Se ele o for, tem grandes chances de ser um de nós. xD

Parabéns pela iniciativa do blog, vou sempre comentar aqui.

Adorei o título.

Vou agora mesmo incluir no meu blog o seu como "blog amigo".

Um abraço!

13 de junho de 2008 às 06:25  

Esse texto seu foi uma surpresa pra mim, menino, você tem talento e inteligência. Acredite nisso e invista.

Beijos, querido.

2 de agosto de 2008 às 20:31  

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